Fábio dos Santos Coradini
Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (GPDOC), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Edmea Oliveira dos Santos
Professora Titular-Livre da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca analisar como as autorias e narrativas de existência e luta da comunidade LGBTQI+ estão sendo construídas no Instagram, compreendendo esse movimento como um fenômeno da cibercultura e entendendo essas ações como uma manifestação política, social e científica na cultura digital. Para além da construção de autorias em rede, buscamos compreender como as produções científicas das personas LGBTQI+ atravessam os currículos e a formação de professores, mediados por uma educação híbrida. Baseando-se nas transformações da cultura de acesso a virtualidade, torna-se possível acerca dos impactos sociais compreender o quanto estar conectado tornou-se uma forma de evidenciar papéis sociais. Trata-se de um estudo em que ao analisar o ciberespaço percebe-se a existência de potentes vozes digitais queers, muitas vezes silenciadas pela cultura cisheteronormativa. Neste espaço e lugar de fala, as pessoas, em suas formas, cores, narrativas e sons performatizam a vida e suas experiências, a vista que o ciberespaço necessita ser habitado, explorado, vivenciado, investigado e acima de tudo compreendido.
JUSTIFICATIVA
Compreendendo a cibercultura como uma cultura contemporânea, destacamos a importância deste fenômeno no campo educacional, pois se trata de um caso de inadequação do acesso a uma educação de direito. Perante estas relações de construção da história do gênero e da cibercultura que iremos traçar um caminho etnográfico entre o real e o virtual, justamente para que possamos entender a partir de qual momento os espaços digitais foram protagonistas na condução de uma nova realidade, estamos falando da necessidade de pertencimento social. O corpus deste trabalho se pauta no olhar para a importância da construção das autorias em rede pelos corpos LGBTQI+, justamente para articularmos a necessidade de termos estas vozes soando nos mais diversos espaços formais e não-formais, acadêmicos, governamentais, públicos. Os corpos não podem mais serem negligenciados e funcionarem para a ciência como meros objetos de estudos ou cobaias queers, testadas e homologadas em textos científicos que irão navegar pelas redes com autorias outras. Para compreender a importância deste movimento, precisamos dialogar com conceitos fundantes das questões que envolvem gênero e sexualidade.
OBJETIVO
A presente pesquisa tem por objetivo analisar o fenômeno das autorias LGBTQI+ no Instagram, etnografando como as pessoas queer constroem narrativas científicas, digitais e formativas no ciberespaço, buscando compreender os impactos na formação de professores através de indicadores para a concepção de um currículo queer.
DESENVOLVIMENTO
Santos (2009) vem promovendo novas possibilidades de socialização e aprendizagens mediadas pelo ciberespaço e, no caso específico da educação, pelas interfaces digitais de aprendizagem. Ainda, de acordo com a autora “o ciberespaço é muito mais que um meio de comunicação ou mídia. Ele reúne, integra e redimensiona uma infinidade de mídias [..]. A cibercultura é o campo epistemológico para as autorias queer, permitindo que os indivíduos possam performatizar suas existências. Para Lévy (1999), a cibercultura é a expressão de uma nova forma cultural universal que difere das que a precedem – como a ciência, as religiões e os direitos humanos – por ser constituída sob a indeterminação de qualquer sentido global ou totalizante. Compreender o ciberespaço e sua relação com o gênero, nos propicia entender quem são os corpos que se apresentam na cocriação desses diálogos aos quais são capazes de promover mudanças sociais, pois de acordo com Louro (2000, p. 6) “os corpos ganham sentido socialmente”, enquanto Scott (1995) nos lembra que a identidade se torna uma moldura mediada pelas convivências experimentadas, individuais ou em um coletivo social.
A estas narrativas de vida em sociedade, chamamos de vozes digitais, também conhecidas como brados, falas, rumores, berros, e para entender este fenômeno necessitamos mergulhar na compreensão da cibercultura como campo epistemológico. A partir deste entendimento, perceber as narrativas para além das redes sociais, nos permitirá compreender como são construídas, vivenciadas, experimentadas e praticadas no cotidiano digital, pois trata-se de personagens que se constituem a partir de importantes processos de autorias e autorização. Estas histórias precisam ser catalogadas, registradas e etnógrafadas.
CONCLUSÃO
A importância de compreender que o ciberespaço está ligado à cidade-estado e nesse movimento os corpos são existenciais, as vozes fora do sistema de ocultação criado por um binário, branco, machista e heterogêneo são reforçadas. Nesse espaço e lugar de fala, as pessoas, com suas formas, cores, histórias e vozes, trazem vida e experiências, tendo em vista que o ciberespaço deve habitar tudo, explorar, experimentar, investigar e comprender. Por meio da autoria da comunidade LGBTQI+, narrativas e experiências surgem e competem em uma relação de poder, espaço, pertencimento e não mais invisibilização.
Apresentamos a autoria queer como um conjunto de gritos, falas, palavras, rumores, ruídos, justamente por entendermos que todas as transformações acontecem na maioria das vezes em processos caóticos. Pelas autorias temos acesso às mais diversas ressonâncias da linguística neutra/queer, dos discursos e presenças políticas de corpos eleitos, das escritas científicas dos poucos corpos dentro da universidade, das ONGS, dos coletivos, dos grupos de estudos, entre outros, que juntos cocriam formas possíveis de estabelecer com a sociedade conexões entre ser, viver e resistir.
PROPOSTA
A proposta desta pesquisa se respalda em um estudo capaz de analisar as autorias LGBTQI+ construídas no ciberespaço e que tem como fonte de etongrafia online a rede social Instagram, compreendendo como as pessoas se autorizarem em rede e apresentar suas falas nas mais diversas instâncias, sociais, políticas, educacionais etc, mas que de alguma forma construam um processo de formação mediado pelo digital. Ao se deslocar das redes para a presencialidade na sala de aula, buscaremos articular as construções narrativas e de formação criadas e mapeadas na rede e seus impactos ao serem utilizadas como artefato de formação na sala de aula, em um processo híbrido e democrático. Com este viés na escola na escola, estaremos estudando, analisando e levantando dados em um campo peculiar de existência, aonde muitas vozes digitais estão em constante potência.
REFERÊNCIAS
Lévy, P. (1999).Cibercultura.Editora 34.
Louro, Guacira Lopes (2000). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Autêntica.
Santos, Edméa. (2009). Educaçaõ Online para além da EaD: um fenômeno da cibercultura. Braga, Portugal: Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. https://www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/documentos.
Stephens, J. (1992).Language and ideology in children's literature. Longman Publishing.